Obrigado, Guga! Um verdadeiro herói brasileiro

12 de dez. de 2010

Nunca gostei de tênis. Sempre achei um esporte monótono, sem graça. Não consigo assistir a uma partida de tênis inteira, ou pego no sono ou mudo de canal em menos de 5 minutos. Meu negócio sempre foi futebol, no máximo vôlei e basquete. Nos últimos anos tenho ouvido, lido e visto muito na imprensa comentários sobre Federer e Nadal. Falam muito bem desses caras, devem até ser bons mesmo. A verdade é que nunca vi esses caras em quadra, se vi foi em lances daqueles que passam rapidamente nos jornais esportivos, mas nunca nem dei atenção à isso.

Guga é campeão vencendo Agassi, em Lisboa, 2000.

Porém, sempre que ouço, vejo ou leio algo sobre o tênis, lembro-me direto de uma pessoa, sem pestanejar: Gustavo Kuerten. Sim, sempre que alguém vem conversar sobre tênis comigo, o que não é nada comum, repito uma mesma frase que jamais canso de dizer: “esse foi o único cara na face da terra que me fez assistir a um jogo de tênis inteiro e torcer como se meu time estivesse na final de um mundial de clubes”.

Um exemplo de homem e ser humano dentro e fora de quadra. Um guerreiro, amante genuíno do esporte, que respeita e honra como poucos as cores verde e amarela. Uma pessoa que merece todas as homenagens que recebe e que merecia ser ainda mais reconhecido e reverenciado.

Guga pra mim é um ídolo, um herói nacional, um cara que cresci aprendendo a admirar, que tive a sorte de poder vê-lo em sua melhor forma e, por que não, quando encerrou sua curta, mas marcante carreira profissional. Neste sábado, assistindo a homenagem prestada a Guga no Maracanazinho e vendo a partida comemorativa com Agassi, comecei a lembrar nitidamente, como se fosse hoje, daquele jogo de 10 anos atrás em Lisboa.

Guga fez com que grande parte do “país do futebol” parasse em frente à TV para assisti-lo. Guga chegou ao topo do mundo, há 10 anos era o primeiro no ranking dos melhores tenistas do planeta. Se hoje temos escolas de tênis espalhadas pelo país, devemos à ele. Se hoje há brasileiros que admiram Nadal e Federer, que assistem tênis por ter o esporte mesmo que em canais pagos, devemos a ele. Não é por causa de Federer e Nadal que brasileiros gostam de tênis, afinal há grandes personalidades no Golf, no Rugby, no Pólo Aquático e não é por isso que há várias escolas desses esportes no Brasil.

Após ver a homenagem prestada a Gustavo Kuerten neste sábado, fiquei pensando no que esse cara representa para o tênis mundial, para o tênis brasileiro e para o tênis dentro do país do futebol. Parei para pensar nas palavras de Luciano Huck, que apresentou a homenagem, dizendo que Guga é responsável pela proliferação de quadras de tênis pelas comunidades carentes do país e sua conseqüente inclusão social.

Um homem que transcende o esporte, Guga em seu discurso de despedida:

Huck tem razão, mas isso poderia e ainda pode tomar proporções muito maiores. O Brasil necessita, e não é de hoje, de ações de inclusão e recuperação social. Está mais do que provado que o esporte, no Brasil, é o melhor meio para se conseguir isso. E é aí que eu paro e penso: por que raios não se investe em outros esportes, sem ser o futebol, nesse país? Sediaremos as Olímpiadas em 2016 e qual é nosso retrospecto no evento? Em que esportes nos destacamos? Poucos, muito poucos, nem o futebol salva.

Claro que o tênis não é um esporte olímpico, mas Guga demonstrou há 10 anos atrás, assim como nesse sábado lotando o Maracanazinho, que o Brasil tem uma boa receptividade ao tênis, e por que não teria a outro esporte? Guga mostrou a força que um ídolo tem na popularização de um esporte, e olha que ainda é muito pouco perto do que poderia ter sido. Se o Brasil desse mais valor aos seus verdadeiros ídolos, seus verdadeiros heróis esportivos, não seria apenas o país do futebol.

Em vez de o presidente da república afirmar que “tênis é esporte de burguês”, deveria nomear um Ministro dos Esportes que honrasse e tivesse noção da magnitude do posto em que ele se encontra, e da força que o esporte pode desempenhar em nosso país. Se mais ações como essa homenagem a Guga tivessem sido tomadas ao longo dos últimos anos para com Gustavo Kuerten, quem sabe teríamos no tênis não só um esporte popular e forte no Brasil, mas um artifício de inclusão e recuperação social inigualável.

Porém, é mais fácil que o Brasil perca mais uma das milhares de chances que já teve de usar seus verdadeiros heróis esportivos para melhorar o país, seguindo com a falsa idéia de que o país vive de futebol. Sou grato por ter visto Guga, por saber quem ele foi e quem ele é, tenho orgulho de tê-lo como ídolo, mas temo que as próximas gerações não tomem conhecimento disso, assim como hoje muitos jovens não sabem que foi Oscar, Hortência, Maria Esther Bueno, Éder Jofre e por aí vai...

E depois ainda dizem que o Brasil é um país carente de ídolos...se soubéssemos quantos deles ignoramos...


Por Luiz Nascimento.
http://www.sanguerubroverde.blogspot.com/

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